domingo, 27 de março de 2016

Entrevista ao antropológo Aurélio Lopes- Correio do Ribatejo


Conforme combinado com o companheiro Matias Coelho, publico aqui uma entrevista de fim de ano, que me foi feita pelo Correio do Ribatejo no início de 2016 e que entre outros assuntos, trata do Fórum Ribatejo e problemáticas associadas à Região.

 A Quadra que atravessamos é, hoje em dia, mais sagrada ou mais profana?
- Vivemos um tempo em que se desenvolve um processo de crescente profanização. Profanização que acompanha o processo de mudança que vem alterando formas vivenciais e conteúdos tradicionais.
Contudo, a mudança é um processo intemporal; contínuo e inevitável. Afinal o que hoje chamamos Natal Tradicional foi, igualmente, resultado de uma construção ritual; no tempo e no espaço.
O presépio, por exemplo, só se divulgou a partir do século XII/XIII. A árvore de natal, de origem nórdica, só na segunda metade do século vinte passou a integrar a nossa tradição.
Podemos dizer, sim, que mais que profano, o Natal está hoje invadido de um caráter mercantil que afeta e reconverte o seu sacralismo. 
Convenhamos que é algo deprimente ver substituídos desígnios morais que enformam a nossa matriz cultural (independentemente de mais ou menos atuais) por meras filosofias consumistas, em que a nova divindade é agora o dinheiro e, a nova doutrina, os intocáveis imperativos de consumo.

A Religiosidade Popular tende a perder-se? Faz sentido falar-se, ainda, na espiritualidade de uma ‘Missa do Galo’, ou nas festividades associadas à Quadra Natalícia ou à Passagem do Ano, nomeadamente as gastronómicas?
- Naturalmente essas ações (que aliás partilhavam de uma ambivalência profano/sagrado) encontravam a sua razão de ser numa funcionalidade temporal socio-cultural específica. Que, naturalmente, se vai esvaindo.
Desaparecendo, assim, à semelhança do “madeiro de natal”, do “lume novo”, dos cânticos natalícios, do “chocalhar os reis”, etc.,,..
Outras, contudo, não mudam tão facilmente, pois se mantêm as suas funcionalidades rituais e constituem ações facilmente inseridas nas modernas vivências celebratórias. É o caso de muitas tradições gastronómicas, das formas de divinização como as “doze passas” ou “bagos de romã”, das libações festivas da passagem de ano, etc.,…
Afinal, tal como a religião oficial, também a religiosidade popular (da qual é em grande parte, reflexo) se adequa às novas circunstâncias.
Não um reflexo óptico. Mas uma adaptação, da mesma, a vivências sociais e culturais específicas: num contexto histórico e mental determinado.

É a vitória do Pai Natal perante um Menino Jesus que parece ter perdido influência nesta Quadra?
- Mais que a vitória do Pai Natal sobre o Menino é, como dissemos, a vitória do mercantilismo consumista sobre os  valores cristãos, que o Natal, historicamente, tem simbolizado.
Substituídos agora por toda uma complexa mitologia consumista que agrega “pais natais” (ícone publicitário criado pela Coca-Cola) “mães natais”, trenós, duendes, renas, “palácios de gelo do Pólo Norte”, fábricas de brinquedos e afins.
O Menino Jesus e as restantes personagens do cenário idealizado do nascimento de Cristo (Maria, José, pastores, vaca, burrinhos e magos) vão sendo esquecidos e constituindo, cada vez mais, meros referenciais simbólicos; esvaziados e estilizados.
Aliás, a simbologia da morte de Cristo; relevando a humildade e a pobreza (não necessariamente como fim, mas como meio) é hoje, quanto muito, aproveitada para cumprir cíclicas e piedosas obrigações caritativas. Ao mesmo tempo que, na prática, se atropelam as mesmas pela multiplicação do consumo. Encarado, agora, não como meio, mas como fim.
Deste modo, a absoluta dominância do Pai Natal, arrasando assim a memória tradicional do Menino, é bem exemplo de um simbólico infanticídio contra o qual a Igreja luta, hoje, estoica e ingloriamente.

Acha que a crise politica e religiosa que vivemos pode aproximar as pessoas de tipos de fenómenos religiosos, que se estavam a perder, como o culto da ‘Santa da Ladeira’?
- É verdade que situações de crise politica ou religiosa (com implicações sociais graves) tendem a fazer os crentes volver, com mais fervor, as suas preces para Deus. 
Foi, aliás, o que aconteceu em Fátima: fruto de uma tensa conflitualidade entre a República e a Igreja, nos inícios do século XX.
Contudo tais aproximações não tendem a fazer reanimar cultos ou santuários adormecidos. Para isso é necessário um novo estímulo desencadeador; milagroso já se vê.
No caso da Ladeira, desaparecida a “santa” e esvaziado assim um culto popular católico/ortodoxo que a mesma liderara e justificara, resta um pequeno e remanescente culto ortodoxo, assente numa igreja sem qualquer tradição em Portugal.
Sem condições hierofânicas para converter os católicos ou, ecuménicas, para atrair as, quantitativamente escassas, massas ortodoxas que existem entre nós.

E, na medicina tradicional, os curandeiros também poderão voltar a estar mais na moda?
- Os curandeiros nunca deixaram de estar na moda.
Os curandeiros tradicionais (“benzedeiras” e “virtuosos”, entre outros), esses sim, foram caindo em desuso (embora de forma desfasada) conforme a sociedade se modernizou.
Mas a necessidade transcendental da cura não desapareceu e o nicho rapidamente foi ocupado por outros personagens mais adaptados a realidades urbanas, universalistas e mediáticas.
Afinal (na ótica popular) se o curandeiro não dispõe do saber da ciência (logo do saber do Homem) “apenas” pode dispor do saber de Deus!
O seu prestígio tende, assim, a permanecer.
Não admira, portanto, a proliferação atual dos chamados “profº”, de designação nominal exótica e, mais exótica ainda suposta origem, que condensam em si as valências de “médiuns”, curandeiros, astrólogos, espiritistas, cartomantes, etc.,…
Um tudo em um, afinal!

O Papa Francisco confirmou a visita a Fátima, em 2017, nos cem anos das aparições. Que significado poderá ter essa visita?
- A continuação da aposta na marianologia. E em Fátima como seu foco irradiador.
Fátima que garante à Igreja Portuguesa uma importância universal que, de outro modo, não teria. Situação (pela nossa pequena dimensão) conveniente tanto para esta como para o Vaticano, já que não acarreta, afinal, o perigo de um excesso de influências exteriores à Cúria Papal.
E que tem na figura do Cardeal Saraiva Martins, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, uma das figuras mais proeminentes do Vaticano. Que, por exemplo, segundo disposições já manifestadas, se prepara para resolver, de uma vez por todas, o bloqueado (por falta de um milagre catalisador), processo de canonização de Jacinta e Francisco.
É que urge iniciar o processo de Lúcia e não se compreenderia se os primos ficassem, eternamente, como beatos. 
Qual a importância, hoje, do assim chamado turismo religioso?
- O turismo religioso constitui hoje uma área em crescimento e sustentação; tirando partido da sua temporalidade não necessariamente sazonal e da existência, por toda a Europa, de uma população sénior cada vez maior e detentora de meios económicos e exigências qualitativas que vão muito para além da valência balnear.
Mesmo uma atividade pontual como acontece com eventuais festas cíclicas (como a Festa dos Tabuleiros em Tomar ou a Festa da Boa-Viagem, em Constância) contribui para colocar, o respetivo lugar, no mapa do turismo religioso nacional e até internacional.
O ideal será contudo uma atividade continuada (o que obriga a um foco devocional ativo) como acontece em Fátima, mas tem vindo, igualmente, a acontecer (a outro nível dimensional) com a reanimação do culto do Santíssimo Milagre, em Santarém.
Acha, assim, que o Santíssimo Milagre pode servir tais propósitos?
Claro, Santarém que deixou cair devoções como Santa Iria ou a Senhora da Saúde tem no Santuário do Santíssimo milagre um novo potencial de turismo.
Culto urbano, este, que não permite um foco devocional corporizável, encontrava-se moribundo em parte devido, precisamente, a esta incorporalidade.
Mas, também por isso, merece hoje, da Igreja, especial incentivo. Aliás o seu transcendental lendário, transversal ao território europeu, para isso, igualmente, contribui.
O mesmo dá hoje origem a um fluxo regular de turistas religiosos; peregrinos na ótica dos responsáveis pelo Santuário.
Tem faltado contudo clarividência e vontade politica para tornar, este, um fenómeno bem mais importante. Encarando-o, verdadeiramente, como um potencial turístico e económico. Especialmente, a dois níveis: na logística referente ao Santuário (nomeadamente na questão dos acessos) e na indispensável diversificação da oferta.
Até que ponto a vinda de refugiados pode ser afetada, no ‘julgamento popular’, pelos atentados que têm ocorrido, sobretudo na Europa?
A questão migratória era já uma temática sensível antes dos últimos acontecimentos. Aliás, provenientes da Africa, afluem sistematicamente à Europa números incomportáveis de migrantes (grande parte muçulmanos) que aqui pretendem entrar.
Contudo, os novos refugiados do médio oriente vieram mudar, pelo menos temporariamente, o paradigma da imigração europeia.
Afinal, por razões de consciência pesada (foram, não o esqueçamos, as intervenções ocidentais na Síria e no Iraque que permitiram o esvaziamento de poder em vastas áreas destes países, ocupados depois, pelos radicais islâmicos) a Europa tem mantido, em relação a estes últimos, uma atitude de maior tolerância.
Tolerância que tem sido aproveitada por tudo o que é refugiado das atuais e anteriores guerras naquela zona. Não só sírios e iraquianos mas, igualmente, curdos e afegãos, por exemplo. Que tentam aproveitar a boleia.
Para eles é a oportunidade há tanto tempo esperada de chegar à Europa; preferencialmente aos países ricos do norte.                                                                                                                        
É possível que para os radicais islâmicos seja, igualmente, uma oportunidade a aproveitar. Oportunidade de conseguir colocar elementos seus nos países europeus que, de outra forma, teriam bem mais dificuldades em entrar e, principalmente, em permanecer.
Por isso mesmo, o recente acordo assinado com a Turquia que pretende estacar, em grande parte, os fluxos crescentes destes imigrantes. Naturalmente custou muito dinheiro à Europa e, mais importante ainda, custou o desbloquear do interminável processo de adesão da Turquia à União Europeia.
Que, não o esqueçamos, quando concretizado, vai permitir a livre circulação dos cidadãos turcos (muçulmanos, já se vê) por toda a Europa.

Em que medida é que estes fenómenos migratórios (num contexto de radicalismo islâmico) vão afetar as gerações futuras?
Recentemente o E. I. divulgou uma lista de países considerados “inimigos de Deus”, onde está, também, o nosso país. Tal decorre do facto de Portugal (ao contrário de outros países europeus) ser recorrentemente seguidista das opções geoestratégicas ocidentais, mesmo quando elas chocam com os valores e causas islâmicas.
Isso torna-nos um alvo potencial.
Para lá destas questões de segurança (de ignotas consequências) mas sempre mais difíceis de gerir em sociedades multiculturais, existem depois os choques culturais; às vezes surdos, outros ruidosos.
Mas essa sociedade multicultural já existe, apenas se vai gradualmente incrementando. Para o bem e para o mal, o futuro será feito de sociedades cada vez mais pluriculturais.

Na sua opinião vão ser criados guetos culturais ou a aculturação será natural?
Muito provavelmente: explícitos ou implícitos. A questão será se os mesmos expressarão, ou não, razões essencialmente institucionais. O que seria uma forma de segregação.
Seja como for, o aumento de medidas de segurança traz sempre, como arrastamento, uma limitação da liberdade de todos nós.
O que constitui um perigo a ter em conta.
Deste modo, se não soubermos gerir o terror, podemos afinal, andar para traz, no que às liberdades individuais diz respeito.
E também, neste caso, os terroristas terão ganho.
Em relação ao islamismo como é possível, na sua opinião, uma crença radicalizar-se ao ponto de converter-se num movimento fundamentalista religioso?
- As religiões não são más, nem boas. São expressões de matrizes culturais tradicionalizadas: agregando corpos de valores e envolvendo desígnios de salvação.
A utilização que se faz delas depende muito da interpretação das suas doutrinas; muitas vezes heterogéneas e multivalentes. Podendo-se deduzir daí, como usa dizer-se, determinados princípios e o seu contrário, se preciso for.
A exemplo do cristianismo que agregou os escritos sagrados dos judeus convivendo, assim, com dois corpos ideológicos muito diferentes, a começar pela natureza da respetiva divindade. Que os cristãos têm usado, historicamente, conforme os interesses e desígnios de momento.
O radicalismo que hoje enforma muitos muçulmanos, é idêntico àquele que, durante séculos, vigorou entre nós.
Contudo deve ser interpretado num contexto bélico de “guerra santa”, que serve de enquadramento ideológico a um choque civilizacional bem dispensável. E em que nós estamos muito longe de estar isentos de culpas.

Sabendo que ninguém poderá prever o local ou a hora do próximo atentado, como se gere o medo, numa situação como esta?
Talvez considerando a insignificância de Portugal no mundo. Afinal, um atentado ou tentativa de atentado ou até uma suposta tentativa (às vezes servem o mesmo propósito: simplesmente lançar o terror) desenvolvida em Portugal, não tem a importância política e mediática das efetuadas em Nova Iorque, Londres, Paris, Bruxelas ou Berlim.
Contudo, nunca fiando.
Naturalmente temos de nos defender, de usar os mais diversos meios, ao nosso alcance, para tentar eliminar os focos de irradiação de terror.
Mas a solução face ao radicalismo islâmico não passa, exclusivamente, por mais ou melhor tecnologia militar e de segurança, mas por mais e melhores relações politicas e sociais com o Islão.
Valorizar menos as vertentes geoestratégicas e o domínio económico das produções petrolíferas. Resolver o problema de Jerusalém: a mãe de todos os fundamentalismos islâmicos.
Criando assim condições, para que a indignação islâmica seja atenuada.
Afinal, até por definição, este é o tipo de guerra que nunca se ganha; sejam os atentados coroados de êxito ou não. Sejam os intervenientes mortos ou não.
Na verdade, desde que exista um fornecimento inesgotável de candidatos a mártires, com acesso fácil a meios de destruição e rodeados de alvos vulneráveis, não se vislumbra maneira de impedir, em absoluto, tais ações.

Existirá o perigo de fenómenos religiosos serem manipulados por governos ou poderes instituídos?
As religiões enquanto mecanismos eficientes de controlo de mentes e vontades foram desde sempre manipuladas por poderes instituídos ou constituíram, elas mesmas, esses ditos poderes.
Veja-se a supremacia do Papa face aos poderes reais europeus durante séculos. Numa altura em que o papado era não só um poder espiritual mas igualmente temporal; reinando como qualquer senhor feudal sobre grande parte da Itália.
Veja-se o tenebroso poder da Inquisição (que em muitos casos se sobrepunha aos estados) durante os primeiros séculos da, assim chamada, Idade Moderna!
Vejam-se as guerras santas que as cruzadas constituíram; tanto contra os ditos “infiéis” como, no século XII, contra cristãos, ditos heréticos, como os Cátaros e/ou os Albigenses.
Vejam-se os genocídios destinados à ocupação de territórios e à conquista de almas (mesmo que, às vezes, já separadas dos corpos) durante a colonização europeia.
Enfim, só muito recentemente, no Ocidente, a religião se separou do poder temporal.
Em muitos estados muçulmanos, tal ainda não se verificou.

Considera que isso aconteceu com o nosso ‘Fado, Futebol e Fátima’?
Fátima resulta, em parte, da luta de poder entre o Governo da República e a Igreja Católica. Desde o início que é marcada por esta luta de poder.
Nos anos trinta a setenta, uma santa aliança Igreja-Estado, elevará Fátima a catalisador do grande desígnio nacional, reanimando assim, até certo ponto, um orgulho nacional que irá sendo desgastado pela perda de um império colonial que se esvai por entre os dedos.
E foi, em parte, esta participação governamental em Fátima (numa altura, não o esqueçamos, em que muitos países europeus partilhavam de uma liberalidade de ideias e costumes inexistente, ainda, entre nós) que em parte lhe garantiu o apoio do Vaticano e a relevância atual.

É coordenador do Fórum Ribatejo que este ano reuniu para apelar, a quem de direito, um olhar mais profundo sobre o Rio Tejo. O ‘SOS’ foi lançado. Com que resultados concretos?
A este nível, os resultados são sempre mais sentidos que explicitados.              
Digamos que é visível, nos últimos tempos, uma maior consciencialização das pessoas e das instituições (especialmente autárquicas) para a importância desta temática.
Suponho que existe aqui, igualmente, um resultado estrutural resultante das mudanças de lideranças autárquicas que a nova lei de limitação de mandatos proporcionou. Aliás, muitos dos anteriores presidentes de câmaras (para lá de uma eventual acomodação ao problema) estiveram próximos dos governos que negociaram tais acordos.
Gostamos de pensar que também vai resultando, em parte, da nossa ação.

Em comunicado assinado pelo coordenador, Aurélio Lopes, o Fórum Ribatejo entende ainda que os Movimentos de Cidadania e as Organizações Não Governamentais da bacia hidrográfica do Rio Tejo, “deverão continuar a contribuir na procura de condições de minimização para a situação atual do Rio Tejo, divulgando publicamente as suas posições”.
Numa questão em que, para lá da poluição, a problemática mais grave resulta dos evidentes défices de caudal resultantes dos acordos internacionais assinados, a possibilidade de sensibilizar os nossos responsáveis de forma a induzir-lhes a necessidade de voltar à mesa das negociações não é (nem nunca será) tarefa fácil.
Afinal, a questão põe-se logo no atual cumprimento, ou não, do acordo alcançado. Que só os responsáveis pelo mesmo e pela sua fiscalização podem conhecer.
Agora, o que parece certo é o seguinte: ou o acordo não está a ser cumprido (e urge reagir contra tal) ou não serve e urge, rapidamente, denunciá-lo e renegociá-lo.
E é ai que entra o papel insubstituível das ONG portuguesas relacionadas com o Tejo. Como fator de pressão sobre as instituições e de informação e esclarecimento das populações.

O Fórum desenvolve a sua atividade desde 2009. Nota algumas melhorias, institucionais ou não, na forma como o Ribatejo é visto pelos poderes políticos e/ou autárquicos que sejam resultado da vossa ação de consciencialização?
- Acho que o retorno respeitante à ação do Forúm Ribatejo é visível essencialmente na naturalidade com que os organismos autárquicos da Região encaram o Forúm. Naturalidade e respeitabilidade, acrescente-se.
E como consideram útil e normal funcionar em parceria com o mesmo.
Que não o esqueçamos, surge como uma entidade exterior à lógica da bipartição regional; duas regiões de turismo, duas associações de municípios, duas comunidades urbanas e duas comissões regionais.
Suponho que existe agora uma predisposição maior para considerar o Ribatejo como um todo. Do ponto de vista cultural, com certeza, mas igualmente social e patrimonial.
Os efeitos disto em termos políticos/administrativos não são fáceis de medir mas, pelo menos, não serão, com certeza, negativos.

Como vê o futuro político/administrativo do Ribatejo?
- O Ribatejo tem sido vítima da manipulação de interesses políticos que acabaram por enfeudar a sua eventual afirmação numa futura regionalização.
A bipartição regional, aqui operada, tem levado à multiplicação dos cargos públicos (uma espécie de “milagre da multiplicação dos tachos”) com vantagens evidentes para a classe política regional e prejuízos, ainda mais evidentes, para a imagem de coesão e homogeneidade do Ribatejo.
A atual ligação ao Alentejo (justificada por conveniências económicas conjunturais), é, afinal, mais um passo no caminho traçado da subordinação administrativa.
Pode-se assim dizer, que se o Ribatejo enquanto futura região administrativa morreu, não morreu de morte natural.
Alguém o assassinou! E, alguns outros, vão ajudando, diligentemente a enterrá-lo!
                                                    
Quais serão em 2016 as próximas iniciativas do Fórum?
- O Forúm ribatejo não é uma associação formal com órgãos dirigentes e planos de atividades anuais. As ações a desenvolver decorrem das livres expressões de vontade dos seus membros, que depois se organizam (melhor dizendo, auto-organizam) nesse sentido.
Para 2016 prevê-se realizar, em Santarém, provavelmente em Maio, um espetáculo que pretende ser uma mostra de interações de diversas expressões artísticas (inclusive o Folclore) num todo configurativamente coerente.
Ir-se-á realizar em 29 de Outubro, em Montalvo/Constância, um colóquio temático, “O Ribatejo e a Grande Guerra”, como sempre em parceria; desta vez com a Câmara de Constância.
Realizar-se-á ainda, com certeza, o habitual Encontro de Historiadores do Ribatejo: de novo na Golegã.
Eventualmente, outras iniciativas surgirão.

Enquanto crítico político, o que acha que podemos esperar do novo governo de esquerda?
Mais ou menos o que poderíamos esperar do anterior; num tom, agora, mais progressista.
É natural que questões legais de princípio relacionadas com causas e valores mais liberais (sociais e de cidadania) como aconteceu com a recente lei sobre “a adoção de crianças por casais homossexuais”) encontrem ali (numa maioria parlamentar mais ou menos solidária) condições de aprovação.
Bem como algumas decisões políticas e sociais, avulso.
Quanto a opções económicas e políticas de fundo,… a nossa autonomia é, hoje, fortemente condicionada por Bruxelas.
Seja qual for o Governo.